A Geração Interativa na era digital
Novas tecnologias, novos modos de ensinar, novos modos de aprender
Nos últimos anos assistimos a uma generalização do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação em todos os âmbitos da sociedade. Todos podemos notar pessoalmente, em nosso trabalho e em nosso modo de nos relacionar com os demais, o impacto desses aparelhos. Mas existe uma faixa etária onde esta influência é patente e se manifesta de um modo que os adultos custam entender: as crianças, os adolescentes e os jovens. Eles se familiarizaram imediatamente com as tecnologias que, para os que têm a responsabilidade de educá-los e formá-los, ainda são grandes desconhecidas. Este fato estabelece importantes desafios que começam no conhecimento de como se está configurando esta Geração Interativa.
Contudo, este desafio não é novo. Nos anos 50 outra tela revolucionou a sociedade do mesmo modo: a televisão. Porém, a televisão demorou quase vinte anos para chegar às casas e outros anos mais para se transformar em objeto de estudo preferente. Ainda hoje propõe numerosos dilemas para legisladores e estudiosos.
No despontar do século XXI, as novas telas abrem uma nova revolução que, ao contrário da anterior, transcorreu de forma muito mais rápida. Atraiu o público jovem desde o princípio e gerou problemas e oportunidades até então desconhecidos. E a geração televisiva de atuar sobre uma geração diferente, que cresceu em um contexto social, cultural e educacional muito distinto, e que, da mesma forma que as mídias interativas, não é linear e não responde a esquemas já conhecidos.
Por isso, precisamos refletir e considerar quais são as características que identificam a Geração Interativa.
Nos últimos anos assistimos a uma supremacia dos dispositivos eletrônicos. As Tecnologias da Informação e Comunicação permitiram que o mundo ficasse muito menor, e se tornaram arte e parte da globalização. De um lado, o processo foi facilitado e acelerado ao permitir acesso instantâneo e fácil à informação sobre o que está acontecendo em qualquer lugar do mundo, diluindo assim as fronteiras. De outro lado, transformaram-se em um fator a mais da globalização: ter um telefone celular ou estar conectado à internet, ter acesso a determinados conteúdos na rede, nos transforma em parte da sociedade globalizada, nos iguala e nos uniformiza com milhões de pessoas de qualquer parte do mundo. Hoje somos temos a consciência de que somos cidadãos globais.
É evidente que a Geração Interativa possui grande fascínio e atração pela tecnologia, independentemente de sua situação geográfica. Estas crianças e jovens têm em comum um grau significativo de posse e uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, saltando não apenas as diferenças por países ou fronteiras, mas as próprias diferenças culturais e socioeconômicas. Independentemente de que um adolescente do primeiro mundo tenha maiores recursos econômicos para adquirir um celular de última geração, uma conexão à internet de alta velocidade ou uma coleção de videogames mais numerosa, seu grau de coincidência com um adolescente de um país em desenvolvimento, no que se refere à disposição ao uso da tecnologia, é altíssimo.
Para esta Geração Interativa, e cada vez mais para o mundo inteiro, o acesso a estes dispositivos se transforma em um bem clássico, de primeira necessidade. Portanto, sem pretextos. Este fato permite falar de uma afinidade especial das novas tecnologias com este público infantil e juvenil, afinidade entendida como um grau de penetração superior neste público se comparado com o total da população. Qualquer um, órgão público, instituição, escola ou empresa, que estiver interessado em se dirigir a geração, deverá levar em consideração estes meios tecnológicos para ser escutado.
Abaixo destacamos alguns tópicos de uma ampla pesquisa feita pelas entidades EducaRed, Grupo Telefônica e Universidade da Navarra, no projeto “Gerações Interativas na Ibero-América, desafios ducacionais e sociais”.
Uma geração equipada
A possibilidade de acesso à internet em casa requer a existência prévia de um computador pessoal. No Brasil, uma pesquisa revelou que a maioria das crianças e adolescentes, 65%, possuem computador em casa. Este fato contribui uma revolução cultural, social e comportamental desta geração digital.
Internet: experiência compartilhada?
Após mais de meio século de experiência televisiva e, apesar do constante aumento de aparelhos por casa, muitos deles no próprio quarto das crianças – assistir à televisão continua sendo uma experiência basicamente gregária. Isso é o que indica a natureza desta mídia e os resultados dos diferentes sistemas de medição de audiências: o poder de atração da televisão consiste em congregar de forma pontual a toda a família – e a milhões de pessoas – a acompanhar conteúdos e eventos de especial transcendência momentânea, como, por exemplo, a estréia de um filhe ou um acontecimento esportivo, ou de forma contínua pelo sucesso de determinados programas – séries de televisão, concursos ou realities. Entretanto, a chegada dos meios interativos foi capaz de romper esta experiência, estabelecendo novas regras.
Neste sentido, uma das mudanças mais radicais no acesso das crianças e jovens às mídias consiste na personalização do uso como experiência única e pessoal. A internet aparece concebida como um meio, um suporte para colocar em prática um uso mais individualizado. E é rapidamente adotado por uma geração radicalmente gregária pela importância que tem para as crianças e adolescentes a relação social com seus iguais. Cabe perguntar-se, então, como se resolve esse paradoxo: a internet isola as crianças e jovens? Existe para eles uma experiência em comum da mídia? É frequente que naveguem sozinhos? Como será possível a mediação familiar sem que os pais estejam presentes nos momentos de acesso? Com que frequência existe uma navegação em comum, entre pais e filhos? A resposta a estas e outras perguntas é transcendental para traçar o mapa de oportunidades e problemas que surgem ao redor da Geração Interativa.
Por meio dos resultados de duas perguntas contidas no questionário (feito projeto “Gerações Interativas na Ibero-América, desafios ducacionais e sociais”), chegou-se a algumas conclusões interessantes.
De maneira geral, no caso de internautas precoces, mais de um terço (40%) reconhece que navega sem a companhia de outras pessoas: "Navego sozinho", é a opção mais reconhecida. Por outro lado, a opção de navegação conjunta admite várias possibilidades: para dois de cada oito, consiste em navegar com amigos ou irmãos; próximo desse número se encontram os casos de navegação junto com professores ou com a mãe, 22% e 20%, respectivamente; por último, atinge uma frequência menor a possibilidade de navegar junto com o pai (18%) ou com outras pessoas (13%). Nesta faixa etária, a navegação solitária cresce paulatinamente com a idade, diminuindo, ao mesmo tempo, a presença dos pais.Por sexos, não se apreciam grandes diferenças, salvo um ligeiro crescimento da navegação junto com a mãe no caso das meninas.
Os resultados definem a Geração Interativa brasileira como a mais solitária, opção reconhecida em mais da metade dos casos. Neste sentido, vai seguida pelo Chile e pela Venezuela, e se situam como os mais gregários as crianças e jovens colombianos: apenas 28% reconhecem navegar sozinhos na internet.
Navegar sozinho parece ser a forma mais frequente de utilizar a internet entre as crianças e jovens ibero-americanos. No entanto, esta situação não é única ou não se define como um requisito essencial para que esta atividade tenha tanto sucesso; na verdade é uma opção que indica autonomia e nem sempre isolamento, ao ser compatível com situações de uso comum da rede.
Sendo assim, as pessoas do mesmo grupo são as mais idôneas para dividir a experiência de uma navegação em comum, principalmente no caso do Brasil e, em menor escala, na Argentina, Chile e Venezuela.
Retomando o assunto da mediação, a internet se tornou a nova praça pública, universal e globalizada, reflexo de tudo o que o ser humano é capaz de fazer, no melhor e no pior dos sentidos. Em vista da pesquisa realizada, é frequente ver perambulando pela praça pública virtual crianças e jovens sem nenhum tipo de companhia, sem possibilidade de uma mediação adulta diante de tudo o que existe nela: Argentina, Colômbia e México são um bom exemplo deste fenômeno, enquanto o Peru, Brasil e Venezuela são os lugares com maior implicação dos pais no uso conjunto da rede, lugares onde também existem os maiores percentuais para o caso "Navego com minha mãe".
Algo semelhante ocorre com professores como guias para orientar os internautas na internet: os docentes do Brasil, Colômbia ou Peru são os que mais se implicam em uma navegação conjunta, embora isso ocorra em uma quarta parte dos casos, na melhor das situações.
Principais atividades na internet
Comunicar. A relação social aparece como finalidade principal. O meio idôneo está constituído pelo uso do Messenger, que com 70% vai por diante na classificação de serviços mais utilizados pela Geração Interativa; trata-se de uma comunicação síncrona, em tempo real, com pessoas ou grupos previamente selecionados. Por idades, sua utilização cresce a partir dos 12 anos e tem maior repercussão entre as meninas, com 66% de uso, do que entre os meninos, com 61%.
Outro recurso amplamente utilizado é o correio eletrônico. Seu caráter assíncrono não é obstáculo para que seja utilizado por 62% dos participantes. Uma vez mais, é a partir dos 12 anos quando a utilização se generaliza e existe uma maior preferência entre as meninas: 66%, contra 57% dos meninos. Em terceiro lugar, 24% utilizam a rede como meio para envio de mensagens de texto (torpedos). Por último, dois de cada dez participantes afirmam que batem papo em salas de chat. Por idade e sexo, existe uma incidência ligeiramente maior entre meninos a partir dos 15 anos.
Conhecer. A internet constitui o meio de informação mais poderoso que a humanidade jamais teve: calcula-se que de janeiro a março de 2008 foram criadas na internet 4,5 milhões de novos sites na rede (pesquisa realizada pela Netcraft, em março de 2008, na qual trabalharam com 162.662.052 entradas). A possibilidade de navegar pelo ingente oceano digital é aproveitada por 59% dos estudantes, através da pesquisa de conteúdos alojados na World Wide Web.
Como fruto desta atividade, seis de cada dez também reconhecem a utilização de serviços que lhes permitem baixar músicas, filmes, programas informáticos e outros serviços.
Compartilhar. A internet se configura como sendo um recurso de relação: o internauta, além de receptor e meio, pode ser simultaneamente emissor de conteúdos. Neste sentido, 43% dos participantes afirmam utilizar serviços de compartilhamento de fotos e vídeos, através de plataformas como Youtube ou Flickr. Além destas, uma forma nova de compartilhar interesses e manter relações está formado pelo fenômeno das comunidades, onde participam 13%,
com um ligeiro predomínio dos meninos comparado com as meninas.
Divertir-se. A realidade poliédrica da internet permite descobrir uma de suas facetas mais atraentes para a Geração Interativa: o componente lúdico. Por um lado, 43% reconhecem que utilizam a internet para atividades de jogos online, com clara preferência masculina: cinco de cada dez meninos utilizam serviços de jogos em rede, o que ocorre a um terço, no caso das meninas.
Por outro lado, a internet proporciona momento de lazer como suporte para serviços de rádio ou televisão digital; seu uso entre a Geração Interativa não é muito frequente –8%, no caso da televisão
e 11% para o rádio– mas indica uma realidade com tendência clara a aumentar no futuro.
Consumir. Por último, a rede serve como plataforma para adquirir inúmeros produtos e serviços. Logicamente, esta possibilidade não é muito frequente entre as crianças por causa das exigências peculiares das transações comerciais via internet: registro de dados pessoais, pagamento com cartão de crédito, etc. No entanto, apesar dessas condições, 6% dos participantes utilizam a internet para comprar.
O papel da família
Apesar da autonomia da Geração Interativa com relação à rede e da escassa implicação dos pais, como companhia ou como referência educativa no uso da internet, podemos afirmar que existe certo critério entre as crianças e jovens. Neste sentido, na pesquisa realizada são abordadas duas questões:em primeiro lugar,a existência de comportamentos de mediação familiar que sejam percebidos pelas crianças e jovens, tais como:a navegação em companhia, o interesse pelas atividades praticadas na rede, a comprovação posterior das páginas navegadas,entre outros; em segundo lugar, interroga-se sobre o grau de restrição parental em determinadas questões como dar informação pessoal, fazer compras on-line, baixar arquivos, bater papo em salas de chat, assistir a filmes ou ver fotos,etc.
O Gráfico abaixo resume os resultados globais relativos à questão:«O que seus pais fazem enquanto você está conectado à internet?»
• Ausência de mediação. Pouco mais de um terço da Geração Interativa afirma que, durante seus momentos de navegação na internet, não existe qualquer ação ou interesse dos pais. Esta percepção é feita tanto por meninos quanto por meninas, e aumenta consideravelmente com a idade até situar-se, para os adolescentes, em percentuais de chegam a 50%.
• Mediação ativa. Implica certo grau de intervenção dos pais durante os momentos de navegação das crianças e jovens. A forma mais difundida e reconhecida entre a Geração Interativa consiste na resposta de 46% à opção "Meus pais me perguntam o que eu estou fazendo enquanto estou conectado à internet". 27% reconhecem um passo a mais na tarefa educativa de seus pais, e afirma que «Fazem vista grossa», fato mais frequente entre as meninas. Longe destas possibilidades, surgem comportamentos mais ativos como «Eles me ajudam» (9%), "Eles se sentam comigo" (7%) ou "Fazemos coisas juntos" (9%). Também parece que não é frequente a presença dos pais no mesmo lugar onde os filhos navegam. A variável em função do sexo traz pouca diferença na percepção dos comportamentos enumerados. Logicamente, a idade se correlaciona de forma positiva nas pautas de mediação parental,aumentando a probabilidade segundo diminui a idade.
• Mediação passiva. Em algumas ocasiões, pais e mães realizam uma mediação ou revisão educativa a posteriori relacionada com os sites e comportamentos de seus filhos como internautas. 5% dos participantes sabem que seus pais revisam os lugares pelos quais navegaram e outros 5% afirmam que seus pais têm acesso às suas
mensagens eletrônicas.
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